Ouça a rádio

Ouvindo...

A politização dos juros

Copom divulga nesta quarta-feira (22) a taxa básica de juros da economia brasileira

Compartilhar

Facebook Twitter LinkedIn WhatsApp
Esta é a última reunião com o Copom totalmente alinhado a Campos Neto

Fazia tempo que não escutávamos tanto sobre juros! O mercado financeiro, como mostrado pela pesquisa Genial/Quaest, deseja a manutenção da taxa atual, os 13,75%. O governo, como demonstrado nas entrevistas do presidente Lula, deseja que os juros comecem a cair. A maioria da população, também ouvida pela Genial/Quaest, está ao lado de Lula, quer juros menores. É em meio a este debate público sobre o papel dos juros no controle da inflação e na produtividade econômica que o Banco Central (independente) terá que se posicionar.

Hoje a noite sai o comunicado oficial do Banco Central. Mais do que uma decisão técnica, o tema parece ter sido capturado pela cegueira que a polarização produz no país. Juros virou tema político, como aqueles que sinalizam onde você está no espectro político ao você se posicionar sobre o assunto.

O impasse bancário nos Estados Unidos e Europa tem potenciais desinflacionários no Brasil e o país caminha a passos firmes para uma retração que pode chegar a uma recessão no fim do ano. A alta estrondosa da Selic de 2% para 13,75% em dois anos está sufocando o crédito, ampliando a pressão que hoje é da política para as empresas e bancos. Ninguém mais consegue arrolar dívidas no país com juros tão altos. Além disso, Haddad entregou a Campos Neto um pacote de ajuste, a recomposição de receita com o PIS/COFINS sobre combustíveis e apresentou as diretrizes da sua proposta de nova regra fiscal. Tudo isso poderia, em tese, levar o Copom a abrir a janela para iniciar os cortes no primeiro semestre.

Tecnicamente, no entanto, as coisas não funcionam assim. A modelagem do Copom dá um alto peso às expectativas econômicas, e todas pioraram muito desde 1 de fevereiro. Corretoras que reproduzem o modelo do Copom não enxergam outra sinalização possível além da manutenção da taxa atual até o fim do ano, com o IPCA deste ano resistente em 5,9%, estourando a meta de inflação pelo terceiro ano consecutivo.

Se repetir o comunicado de fevereiro, Campos Neto cria para si e sua diretoria um clima de guerra. Um aviso duro será compreendido pela política como uma derrota do gradualismo de Haddad e dará força para a esquerda do PT impor o seu ritmo à política econômica. Mas se adiantar um corte para maio - como espera o presidente Lula - o mercado verá o movimento como uma concessão, minando a credibilidade do BC.

Em um mundo ideal, Campos Neto seguraria os juros até o final do ano para só depois de controlado o núcleo da inflação, iniciar um corte sistemático da Selic. Foi o que Illan Goldfajn fez em 2016, quando baixou os juros de 14,25% gradualmente para 6,5% em dois anos. Só que Goldfajn tinha Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda. Campos Neto tem um governo eleito para cumprir uma agenda social que politicamente é mais urgente que controle de gastos.

Esta será também a última reunião de um Copom totalmente alinhado com Campo Neto. Na reunião de maio já devem estar empossados os dois novos diretores. Rodolfo Fróes e Rodrigo Monteiro, devem ser os indicados para contestar o consenso fiscalista do atual Copom.

O dilema de Campos Neto não é simples. Se bater o pé, pode inviabilizar a continuidade da independência do Banco Central no restante do governo Lula. Se conceder demais, pode desacreditar a política monetária e desancorar as expectativas num momento em que o mundo pode estar entrando numa crise financeira. Fato é que um tema técnico virou político e a decisão de hoje vai definir de que lado Campos Neto esta.


Participe do canal da Itatiaia no Whatsapp e receba as principais notícias do dia direto no seu celular.  Clique aqui e se inscreva.

Leia Mais

GOVERNO

Nomes dos dois novos indicados ao Banco Central são enviados por Lula ao Senado

ECONOMIA

Após corte na Selic, Banco do Brasil reduz juros no crédito  

ECONOMIA

Copom decide sobre taxa de juros nesta quarta-feira, e expectativa é de novo corte

BRASÍLIA

Gleisi Hoffmann ataca presidente do Banco Central a quatro dias da reunião do Copom

Fim da crise?

Governo editará medida tributária para socorrer cadeia produtiva do leite

Av. Barão Homem de Melo, 2222 - Estoril Belo Horizonte, MG

T.(31)21053588