Há dois anos, o Brasil chorava a morte de Marília Mendonça, uma das maiores vozes do sertanejo
Morte de Marília Mendonça completa dois anos neste domingo (5)
Há exatos dois anos, o Brasil parou para ver o resgate de Marília Mendonça em Piedade de Caratinga, cidade mineira com menos de 9 mil habitantes, onde o avião que a cantora estava caiu. O pedido era um só: que ela estivesse viva. Algumas horas depois, veio a notícia de que ninguém sobreviveu ao acidente. O Brasil chorou a morte da Rainha da Sofrência. Foi impossível não viver o luto e sentir o impacto de perder uma das maiores cantoras da história do país, uma das primeiras a “furar a bolha” e ocupar um espaço que antes não se via muitas mulheres.
Marília morreu aos 26 anos, no auge da carreira. Mesmo com a sua partida física, a artista é sentida nas músicas que ela deixou e as que compõem seus álbuns póstumos que tanto emocionam os fãs. Marília está viva na arte, nas lembranças, no filho, em quem passou pela vida dela e em quem só entendeu sua genialidade após sua morte.
Suas canções não conquistaram o público à toa. Elas contam histórias reais. Quem nunca viveu um amor não correspondido? Quem nunca sofreu por amor? Marília cantava amor, contava a “vida”.
A reportagem da Itatiaia esteve há um ano na cidade mineira que estava preparada para recebê-la naquele fatídico dia. Lá, conversou com pessoas que viram o acidente por ângulos diferentes, fãs que esperavam ansiosamente pelo show que ela realizaria no local e funcionários do hotel onde ela ficaria hospedada.
Dia do acidente
Por volta das 16h do dia 5 de novembro de 2021, uma sexta-feira, começaram a circular imagens do avião, que decolou em Goiânia (GO), caído em uma cachoeira em Minas. A aeronave era igual a que Marília Mendonça exibiu em seu Instagram e comemorava a vinda para o estado mineiro. Pouco depois, o nome dela foi citado como uma das possíveis tripulantes.
Naquele dia, a assessoria da artista disse que todos do avião estavam bem, mas o longo tempo de resgate deixou seus fãs preocupados. Algum tempo depois, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros confirmaram a morte de todos os tripulantes da aeronave.
No momento da queda, o tenente Fábio Fonseca, da PM, estava no Aeroporto Regional de Ubaporanga, a poucos quilômetros dali, aguardando o desembarque da artista. Ele viu o momento em que a aeronave caiu. "Um senhor que trabalha no aeroporto viu a aeronave e falou: 'bateu, vai cair, vai cair'. Quando a gente olhou para cima, a aeronave já estava perdendo a altitude. Um cheiro muito forte de combustível. Ela começou a rodar e caiu. Imediatamente nós pegamos a viatura e nos deslocamos, e a minha equipe foi a primeira a chegar no local", contou à Itatiaia.
O Beechcraft King Air prefixo PT-ONJ caiu na cachoeira de um condomínio, onde mora o empresário Aníbal Martins que assistiu a queda por outro ângulo. "Eu vi o momento em que ela caiu: algo em torno de uns três, quatro segundos após a colisão com o cabo da torre de transmissão. O avião desceu em uma linha reta, e no momento em que soltou o motor, acabou batendo em cima da rocha", recorda.
"Eu fui a primeira pessoa a chegar porque estava a 150 metros dali. Esse dia eu não fui para a empresa, eu tinha ficado aqui no meu sítio acompanhando alguns trabalhos. Não fui ao lado da aeronave com medo da explosão. O vazamento de combustível era muito grande, o cheiro de querosene muito forte. Nesse momento, eu já havia ligado para o Corpo de Bombeiros, para o Samu e para a Polícia Militar para que eles pudessem prestar os primeiros socorros", acrescenta.
Resgate
A Polícia Militar foi a primeira corporação a chegar à cachoeira. O local era de difícil acesso, escorregadio e o bimotor não tinha estabilidade. "A prioridade naquele momento era tentar salvar as pessoas que estavam dentro do avião. Eles caíram em local de cachoeira, estava com um cheiro muito forte de querosene, com risco muito alto de explosão, de queda da aeronave e também havia perigos aos militares. Quando o Corpo de Bombeiros chegou, nós conseguimos cordas para amarrá-los para não correr o risco de alguém se machucar. Conseguimos um pé de cabra e tentamos arrombar a porta, que ficou emperrada com a queda", detalha o tenente Fábio.
Ao abrir o bimotor, o tenente avistou três corpos. "A parte interna da aeronave estava toda destroçada. Recebemos o apoio de um médico do Samu. Nós o amarramos para não cair, ele foi até o interior e atestou os óbitos. Em um primeiro momento, a gente conseguia ver três pessoas, que eram os passageiros. O piloto e o copiloto estavam em outro compartimento. Somente depois conseguimos ver que, infelizmente, eles também estavam sem vida".
Para resguardar os corpos e a cena do acidente, os militares precisaram ter muita cautela. Isso porque várias pessoas acompanhavam o momento do resgate, com aparelhos celulares, inclusive fazendo lives. "Os corpos foram retirados da cachoeira, colocados em macas e levados sem ser expostos graças ao trabalho intenso das equipes envolvidas. Grau de dificuldade muito grande, porque a aeronave estava instável, balançava muito no momento em que era feita a retirada das pessoas", explicou.
Além de Marília, morreram no acidente o produtor da cantora Henrique Ribeiro, o tio dela, Abicieli Silveira Dias Filho, o piloto Geraldo Medeiros Júnior e o copiloto Tarciso Pessoa Viana.
Avião íntegro. Piloto em Caratinga, Luís Henrique de Araújo descreve que as imagens do avião íntegro trouxeram esperanças para o público de que os passageiros e a tripulação estivessem vivos. No entanto, para conhecedores de aviação, era nítido que havia algo de errado ali.
"No dia da queda, eu estava em casa quando começaram a surgir as notícias. Quando eu vi o avião na situação que ele estava, íntegro, e o local onde ele caiu, fiquei imaginando como que o piloto fez aquele pouso naquele lugar. Fiquei feliz também porque o pessoal tinha falado que ela já estava no hotel, né? Fui correndo para prestar alguma assistência por ser piloto mas, infelizmente, quando eu cheguei vi que um médico constatou as mortes e decidi ir embora. Eu fiquei muito triste com essa situação", lamenta.
Luís explica qual seria o percurso que a aeronave que transportava a cantora e equipe faria naquele dia. "Ela chegou pelo setor Noroeste/Oeste aqui de Caratinga, e esse percurso já se enquadrava praticamente na perna do vento. A perna do vento é um segmento paralelo à pista de pouso. Nesse segmento, a gente já tem que estar com o avião configurado. O trem de pouso baixado, os flaps baixados, a velocidade do avião reduzida, o motor reduzido... Isto tudo para fazermos a curva base e ingressar na reta final para pouso. Só que em Caratinga, essa curva base conflita com um morro, justamente onde aconteceu o acidente dela", esclarece.
Hotel preparado para recebê-la
Marília se hospedaria em um hotel no bairro Rodoviários, em Caratinga. "A gente realizou todo o planejamento do hotel - tanto para receber a cantora quanto para receber a equipe e a todos em torno dela na cidade. A gente tinha preparado o quarto, montado toda a estrutura de segurança para recebê-la", conta o empresário e ex-funcionário do hotel onde a cantora ficaria hospedada, Cristiano Ferreira.
"Inclusive, quando aconteceu o acidente, a equipe da banda dela já tinha chegado ao hotel, eles já estavam hospedados com a gente. A cantora ficou de vir de avião com algumas pessoas. A gente tinha uma expectativa muito grande pela movimentação na cidade, só se falava desse assunto, só se falava desse show”, recorda.
Histórica
Em 7 de novembro de 2021, Marília foi coroada a cantora do ano no Prêmio Multishow após um pedido dos fãs. A votação foi suspensa naquela data.
Posteriormente, a artista foi homenageada no Grammy Latino, realizado em Las Vegas, nos Estados Unidos (EUA), em 18 de novembro de 2021. Na ocasião, Manuel Abud, CEO d'A Academia Latina da Gravação, se pronunciou. "Proponho não deixar a tristeza ofuscar a celebração de hoje, convido todos a usarem essa cerimônia para celebrar Marília Mendonça e seu legado. A Academia ratifica e eu reafirmo", afirmou.
"As Patroas" - primeira parte do projeto de Marília com Maiara e Maraísa - chegou a ser indicado à categoria Melhor Álbum de Música Sertaneja.
Em setembro de 2022, "Patroas 35%" também recebeu indicação póstuma para o Grammy Latino 2022 na mesma categoria.
Em 2023, Marília voltou a ser indicada ao prêmio com seu álbum póstumo "Decretos Reais, Vol.3". Ela compete com produções de Daniel, Jorge e Mateus, Chitãozinho e Xororó e Lauana Prado. A premiação será realizada em 16 de novembro, em Sevilha, na Espanha. Vale lembra que, de acordo com os representantes legais da artista, Marília possui um acervo com 100 músicas inéditas.
Premiação com seu nome. Em outubro deste ano, a equipe da cantora anunciou que a primeira edição do Prêmio Marília Mendonça, que premiará os destaques da música sertaneja, será no dia 26 de Março de 2024.
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