Professores doutrinadores x traficantes: o falso dilema

Sou professor e, com medo, muito medo mesmo, ouvi as palavras do deputado federal Eduardo Bolsonaro em uma manifestação pró-armas na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Ele disse: “Não tem diferença de um professor doutrinador para um traficante de drogas que tenta sequestrar e levar nossos filhos para o mundo do crime”. E completou: “Talvez até o professor doutrinador seja ainda pior, porque ele vai causar discórdia dentro da sua casa, enxergando opressão em todo tipo de relação. Ele vai falar que o pai oprime a mãe, a mãe oprime o filho e que a instituição chamada família tem que ser destruída”.

Meu medo não é do Eduardo Bolsonaro, nem do seu clã, apesar de já terem darem mostras do que são capazes para se manter no poder. Meu medo é de quem é capaz de temer uma ideia, em proporção até maior do que teme a ação de um traficante em meio a uma família.

Quem frequenta uma escola sabe que ela é a síntese da sociedade, uma pluralidade de perfis, de visões de mundo e de ideias, um espaço para reflexão e para ter contato com o diferente. Um lugar para tornar as pessoas mais tolerantes em relação a outras pessoas.

Quem teme uma doutrina, além de temer um professor, teme também a religião, teme diferentes modos de vida, teme raças diferentes, teme escolhas diferentes. Quem teme uma doutrina quer impor seu modo de vida, seu jeito, sua religião e sua filosofia a todos. E isto é o fascismo.

Quem diz o que disse o deputado e aqueles que o aplaudiram ou os que fizeram defesa da fala nas redes sociais, não conhece o que é uma escola, não conhece o que é esse Brasil em que a escola é o único lugar onde as mães sentem segurança ao deixar os seus filhos para os afastarem da ameaça das drogas.

Eduardo Bolsonaro e as vozes fascistas deste país precisam conhecer mais a nossa realidade e, inclusive, o valor da escola e da educação na vida das pessoas. O sonho das periferias das cidades é a escola em tempo integral, um lugar onde as crianças e jovens possam conviver com o diferente, possam lidar com novas ideias, possam aprender ofícios, disporem de alimentação e, até, ficarem protegidas de traficantes e das drogas, para tranquilidade de pais e mães, preocupados com a segurança de seus filhos nos dias de hoje.