O anti-sexismo e o racismo na Espanha: uma combinação incomum
A Espanha combate com rigor atitudes como a de Daniel Alves mas compactua com as agressões criminosas a Vinicius Junior
Dizem que o futebol é a coisa mais importante entre as menos importantes. O esporte que fomenta as rodas de conversas nas segundas-feiras em quase todos os países do mundo revela sentimentos e comportamentos estruturais em uma sociedade.
E entre estes comportamentos estruturais há duas injustiças que precisam ser enfrentadas, pois nada justifica a sua continuidade nos dias atuais. Falo do sexismo – discriminação de gênero - e do racismo – a discriminação baseada na cor da pele.
Quando falamos em Futebol, lembramos da Espanha e suas belas participações nas últimas copas, dos seus times mágicos que movem multidões de fãs em todo o mundo. Afinal, qual apreciador do futebol nunca se encantou com lances protagonizados pelas equipes do Barcelona, Real Madrid e outros times espanhóis?
Se os times protagonizam espetáculos, devemos reconhecer também avanços do país no enfrentamento do sexismo. O que aconteceu com o jogador brasileiro Daniel Alves é um exemplo da forma como o tema precisa ser trabalhado. A vítima do jogador foi acolhida por profissionais de segurança treinados que deram os encaminhamentos necessários e que levaram à responsabilização do atleta brasileiro. Situações como a que ocorreu com Daniel Alves se repetem e, só com treinamento de profissionais e a exposição de casos como o dele, as mulheres terão mais voz para dizer que Não é Não e ponto final.
Contudo, na questão do racismo, da cor da pele, a Espanha deixa muito a desejar. Infrações contra pessoas baseadas em suas características pessoais, tais como raça, origem étnica, linguagem, religião, sexo, idade e incapacidade física ou mental estão tipificadas como crime, com penas que podem variar de um a quatro anos de reclusão mais multas. Porém, mesmo com as penas previstas, a justiça e a sociedade espanhola têm sido condescendentes com agressões e xingamentos baseados na cor.
O caso do jogador brasileiro Vinícius Junior é sintomático. A perseguição de Vini Jr. dentro e fora de campo revela traços de uma sociedade arcaica, que não tolera reconhecer o sucesso de um jovem negro e latino. A omissão e a letargia das autoridades do país, dos dirigentes e dos patrocinadores demonstram uma conivência com os causadores de tudo o que o jogador vem passando nos últimos tempos.
Sempre é bom lembrar que quando falamos de racismo e/ou de sexismo estamos falando na necessidade de se indignar quando alguém é tratado de maneira diferente a partir de suas características pessoais. Quem se cala em relação ao sexismo ou racismo, contribui para sua perpetuação.
A Espanha e o futebol fizeram avanços no enfrentamento do sexismo, mas no que se refere ao racismo, ainda parece o país das caravelas que importava negros à força do além-mar para atuar como mão de obra barata em suas novas ocupações territoriais.
Vini Jr poderia se calar, ganhar e gastar os milhões de euros que recebe graças ao seu talento dentro dos gramados. Mas Vini Jr veio para fazer história. Dentro de campo é sensacional e fora dele tem demostrado que luta por milhões de negros que, na Espanha e fora dela, são comparados com macacos e desvalorizados pela sua cor. Vini Jr mostra que a indignação não pode ser seletiva. Não se pode tolerar nem o sexismo, nem o racismo. E mostra mais, que o silêncio precisa ser quebrado por todos para que tais injustiças – e crimes - sejam duramente punidas.
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