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Entre nós há idiotas

A palavra idiota é um conceito fecundo, em sua origem quer dizer: "o próprio, o mesmo"

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Padre Samuel Fidelis

O desenvolvimento da tecnologia ampliou nosso acesso à informação. Circulam o tempo todo, entre nós, pesquisas, referências e dados.  Estamos todos interligados, interagindo. Tudo diz respeito a todo mundo. O risco de tanta coisa o tempo todo, indo e vindo, é que não dá tempo de verificar o que é a verdade.

Sim, porque a verdade nunca vem ao acaso. Ela pressupõe um processo de "desvelamento". É essa, inclusive, a sua etimologia no grego: alétheia, que quer dizer "desvelar", "tirar o véu". Isso indicando que o que é verdadeiro só pode o ser por revelação, processo...

Em tempos de enxurrada de informações, em que pessoas se convencem a partir do que acabaram de receber no WhatsApp, em que as Redes Sociais fazem de todos "testemunhas", especialistas e árbitros, perde-se a noção do que é a verdade.

Já postulava Humberto Eco: a Internet deu voz a todo tipo de idiota. Uma frase dessas é uma profecia. Como dizia Nelson Rodrigues: "os profetas veem o óbvio". Basta entrar nessa ou naquela Rede Social para termos a certeza de que há muita fala, opinião; há muita gente dizendo a partir de si, da sua bile e muito pouca reflexão e senso da realidade.

A palavra idiota é um conceito fecundo! Em sua origem quer dizer: "o próprio, o mesmo".  Idiota, portanto, é alguém que imagina que o mundo é apenas uma extensão das suas ideias. Alguém que só consegue se relacionar com que confirme seu próprio ponto de vista.

Pode-se não ser letrado e se ser um idiota. Isso, dado que a rigidez de pensamentos, não raro, advém da falta de repertório. Mas, em sentido diverso, também se pode ser idiota com um ou mais títulos acadêmicos.

Lá onde sobram livros, teses e simpósios, lá onde a realidade se resumir a esse ou àquele autor, lá onde se tiver a exata certeza do que querem "o povo e os pobres", há um indivíduo ou uma trupe de idiotas.  Sem a capacidade de traduzir a vivência concreta da dona de casa e se sobram reflexões ou ideias especializadas, o que quer que se diga ou escreva não passa de uma tese idiota ou abstrata.

Chega uma hora que “boas teses" não colam. Elas cedo ou tarde perdem a conexão com as massas... O que começa bem, genuíno, comunitário e "ideal" tem sempre o risco de se tornar uma histeria ideológica. E, ao fim e ao cabo, toda idiotice termina castigada.

Alguém precisaria dizer para os idiotas das estatísticas, dos gabinetes e da “objetividade” que a democracia e as igrejas têm uma vocação natural ao sofismo. Em ambas (é um fato!), costuma-se decidir com as vísceras. Alguém tem que dizer que o amor aos pobres não é só questão de aumento de crédito bancário, mas antes de tudo, conexão com a vida das pessoas e o fornecimento de repostas concretas a dramas reais... Sim, a religião se presta a ópio do povo, (disso concordam Jesus e Marx!). Todavia, num vetor de sentido contrário, as estáticas e a "objetividade" são o ópio dos intelectuais.

É óbvio que a tentativa de fazer do "politicamente o correto" o coveiro das "ilusões ressentidas" da humanidade daria errado. Tentar enterrar sentimentos vivos, sobretudo se eles foram plantados na alma do “tio do zap” num muito momento arcaico, não os mata. Cedo ou tarde, como diria Freud, os fantasmas do que foi ressentido saem vivos dos túmulos. Viram voto...

Saem como zumbis, saem por todos os Canais e Redes, devorando cérebros por repetição e compartilhamento. Esses são os berros do seu devaneio ambidestro: "Quem nos livrará do comunismo?" "Saudades de antigamente". "Ah, essa classe média opressora!" "Quem nos salvará desses burgueses safados?". Para não ser ensurdecido por esses gritos é preciso o auxílio da Graça divina e da "santa ironia".

A ironia, como lembra Kierkegard, nos ajuda a ter distanciamento do nosso "em si", das nossas idiotices. Ela proporciona um recuo crítico de nossas convicções pré-fabricadas, e dá o tão saudável senso do contraditório (já que só um tapado acha que é a realidade é sempre preto no branco...). A Graça de Deus, como postula Paulo, permite ver que se alguém está muito convicto de conhecer bem alguma coisa, ainda não conhece como é necessário conhecer. Além do que: o conhecimento incha, faz explodir, o amor, em sentido diverso, edifica pontes e constrói (1 Cor 8, 1-2).


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