Hipólita Jacinta: a única mulher conjurada no Panteão da Inconfidência em Ouro Preto
Fazendo jus ao nome Hipólita - rainha das guerreiras Amazonas na mitologia grega, Hipólita Jacinta Teixeira de Melo se uniu aos conjurados na luta pela liberdade.
Início de 1789. Pelos bastidores da Inconfidência Mineira, existia um clima de tensão e expectativa. Os conjurados se articulavam para tornar o Brasil livre dos abusos da Coroa Portuguesa, mas Joaquim Silvério dos Reis, Coronel Comandante do Regimento de Cavalaria Auxiliar de Borda do Campo, fazendeiro e dono de minas de ouro agia infiltrado entre os inconfidentes. Em abril daquele ano, enviou uma carta de delação, ao governador de Minas Gerais, Visconde de Barbacena, contando da existência de um movimento em Vila Rica, que pretendia proclamar a República e libertar o Brasil de Portugal. A derrama - cobrança extra de tributos, foi suspensa e os inconfidentes começaram a ser presos.
Mas da Fazenda da Ponta do Morro, situada em Prados, no sopé da Serra de São José, ponto estratégico do Caminho Velho, que ligava Vila Rica a Paraty, outro bilhete era enviado a favor dos conjurados. E ele não era assinado por nenhum dos inconfidentes hoje muito conhecidos, mas foi escrito por uma mulher, Hipólita Jacinta Teixeira de Melo. Ao receber a notícia da prisão de Tiradentes, ocorrida no Rio de Janeiro, Hipólita Jacinta não só mandou avisar os outros líderes, mas tomou outra decisão corajosa: decidiu levar a revolta adiante, instruindo as tropas a deflagrar a guerra em vários pontos da capitania. Numa época em que as mulheres eram passivas, solitárias e muitas vezes, analfabetas, Hipólita Jacinta se uniu aos conjurados no sonho da liberdade.
Pioneirismo feminino
Educada, culta, rica e de personalidade forte, Hipólita casou-se com Francisco Antônio de Oliveira Lopes. Ele foi companheiro de Tiradentes desde a época do Regimento dos Dragões de Minas, em Vila Rica e mais tarde, tornou-se membro ativo do grupo dos inconfidentes. Envolvida com o movimento, Hipólita Jacinta fez da sua fazenda uma célula da Inconfidência, onde eram promovidas reuniões secretas. Mas sua atuação foi mais do que receber os conjurados em sua casa. Ela foi a única mulher a participar ativamente do movimento, chegando a dar a ordem de iniciar uma resistência armada para defender os ideais da Conjuração Mineira.
Fazendo jus ao nome Hipólita - rainha das guerreiras Amazonas na mitologia grega - na carta enviado aos demais membros da Inconfidência, ela escreveu: “Dou-vos parte, com certeza, de que se acham presos, no Rio de Janeiro, Joaquim Silvério dos Reis e o alferes Tiradentes, para que vos sirva ou se ponham em cautela; e quem não é capaz para as coisas, não se meta nelas.”
Em outra atitude forte e corajosa, proibiu o marido de entregar ao então governador de Minas, o Visconde de Barbacena, uma carta-denúncia delatando o movimento, numa tentativa de diminuir sua pena por participar da Conjuração. Hipólita queimou a carta e destruiu outros documentos que pudessem delatar os revolucionários.
Protagonismo finalmente reconhecido
Debelado o movimento, constam nos Autos da Devassa - processo instaurado pela Coroa portuguesa contra os conspiradores - apenas o julgamento e as penas dos integrantes masculinos da conjuração. Mas também Hipólita sofreu os efeitos da derrota dos inconfidentes: teve os seus bens sequestrados pela Coroa, inclusive os recebidos de herança paterna. E durante anos, lutou para reaver os bens confiscados. Segundo historiadores, talvez a pena mais forte sofrida por ela foi o esquecimento ou o não reconhecimento pela História de seu protagonismo no movimento.
Demorou muito para que Hipólita Jacinta começasse a ter um justo reconhecimento. Em abril de 1999, ela foi postumamente agraciada pelo então governador Itamar Franco com a Medalha da Inconfidência, maior honraria do Estado de Minas Gerais.
E em abril de 2023, mais de 230 anos após a Inconfidência Mineira, Hipólita Jacinta Teixeira de Melo teve finalmente o reconhecimento merecido e negligenciado pela História e passou a ser a primeira mulher a ter uma lápide no Panteão dos Inconfidentes, em Ouro Preto, ao lado de Tiradentes e dos demais conjurados. Como não foi possível localizar os restos mortais de Hipólita, uma caixa com terra recolhida da fazenda onde viveu foi depositada dentro da lápide.
Também em Prados, sua cidade natal, foi inaugurado na Praça Dr. Viviano Caldas, um monumento em homenagem à Hipólita. Em destaque, foi colocado outro trecho da famosa carta redigida por ela: “mais vale morrer com honra que viver com desonra”.
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