Venda de passagens pela 123Milhas na Black Friday revolta internautas

O anúncio de vendas de passagens a preços promocionais pela 123Milhas e pela Maximilhas, empresas que têm os mesmos sócios, revolta internautas nesta sexta-feira (24) de Black Friday. Isso porque as empresas estão em recuperação judicial, e a 123Milhas é acusada de calote por clientes que tiveram passagens canceladas e por ex-funcionários que não receberam direitos trabalhistas.

“O reembolso das passagens que é bom, nada né?”, comentou uma internauta em um post feito no Instagram da Itatiaia com a notícia de que as empresas faziam, nesta sexta, promoções de Black Friday.

“Deveriam era pagar a rescisão dos ex-funcionários, 171milhas”, escreveu outro, fazendo referência ao artigo 171 do Código Penal (obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento). “Golpe tá aí, cai quem quer”, comentou outro.

Simulações feitas pela Itatiaia nos sites das empresas confirmam que a venda de bilhetes continua. O site anuncia passagens para Aracaju de R$545 por R$289 e para Natal de R$1.699 para R$571 na 123Milhas. Na publicação do Instagram, a empresa destaca que ‘as emissões de reservas serão imediatas, mas, caso não sejam emitidas em até 24 horas, o valor será estornado ao cliente.’

Já a Maxmilhas oferece cupons de 20% e redução de 10% em todos os voos pagos por meio do Pix.

“Prefiro pagar mais caro e ter a certeza que vou viajar, do que pagar barato e não viajar”, escreveu.

O que diz a 123Milhas

A Itatiaia entrou em contato com a 123Milhas que, por meio de nota, informa que "continua operando normalmente, oferecendo a seus clientes a emissão imediata de passagens e de reservas de hospedagem. A manutenção das operações é fundamental para o futuro da companhia e para honrar o compromisso com seus credores."

Ainda segundo a empresa, a intenção é manter a promoção da Black Friday até segunda (27), "mas poderá retirá-la antes, a depender da variação dos preços dos bilhetes."

Recuperação fiscal

A Justiça de Minas Gerais autorizou a 123Milhas a resgatar mais de R$ 23 milhões que estavam aplicados em ativos de renda fixa no Banco do Brasil. O valor milionário deve ser usado pela agência de viagens para pagar salários, planos de saúde, FGTS e outras despesas do cotidiano da empresa.

A empresa entrou com o recurso na 21ª Câmara Cível de Belo Horizonte solicitando o desbloqueio de R$ 23.516.504,81 em CCB (Cédulas de Crédito Bancário) do Banco do Brasil. Segundo a 123Milhas, os créditos foram amortizados ilegalmente pelo banco e o fato da empresa não ter acesso aos recursos poderia impedir o processo de recuperação judicial da agência, que precisa honrar suas obrigações.

De acordo com a 123Milhas, o valor desbloqueado será utilizado “para honrar a folha de pagamento, planos de saúde, FGTS, condomínios e tantas outras despesas notórias do dia-a-dia.” A empresa alegou ter quase R$ 17 milhões em débitos que precisam ser pagos para os seus funcionários.

Na última semana, ex-trabalhadores da empresa realizaram uma manifestação no bairro Funcionários, região Centro-Sul de Belo Horizonte.

Processo administrativo

Na última segunda-feira (19), A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça, abriu processo administrativo contra a 123 Milhas por violar o Código de Defesa do Consumidor.

O documento da Senacon alega que a empresa descumpriu contratos sistematicamente e negou ressarcir os clientes pelos prejuízos, conforme prevê a legislação.

Segundo o despacho, a empresa tem 20 dias para apresentar defesa. A 123 Milhas pediu recuperação judicial em agosto. O cancelamento das passagens teria ocorrido porque a empresa não conseguiu arcar com os custos dos bilhetes ao preço que foram vendidos.