Micose de gatos que passa para humanos está descontrolada no Brasil, alerta especialista
Esporotricose é causada pelo fungo Sporothrix brasiliensis; Minas registrou 524 casos em 2022 e 517 neste ano
Uma micose que ocorre entre gatos e deles para os cães e dos cães para os seres humanos está descontrolada no Brasil. Em Minas Gerais, somente neste ano, foram 517 casos contra 524 em 2022. A esporotricose, uma micose que provoca lesões na pele, é causada pelo fungo Sporothrix brasiliensis e avança em alguns estados do Brasil.
O alerta é do infectologista Flávio Telles, coordenador do Comitê de Micologia da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e professor do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Paraná. Segundo ele, há casos na Argentina, no Paraguai, no Uruguai e no Chile.
A transmissão da esporotricose ocorre entre gatos e deles para cães e seres humanos através de mordidas, arranhões e do contato com as lesões dos infectados. Os bichanos carregam o fungo nas garras, na saliva e no sangue.
"Atualmente, no Brasil, 90% é pelo brasiliensis, a transmissão felina. Cachorros e humanos não transmitem; só gatos", reforça Telles à Folha de São Paulo. O aumento das ocorrências no país também foi mencionado na nota técnica do Ministério da Saúde, de 2023, que se refere à doença como "um grave problema de saúde pública".
Apesar de reconhecer a gravidade, pelo fato de a esporotricose não ser de notificação compulsória o órgão não sabe quais estados produzem as estatísticas de casos e mortes e só fornece tratamento a seres humanos. O SUS disponibiliza o medicamento itraconazol e formulações lipídicas de anfotericina B, segundo a assessoria de imprensa. O Ministério da Saúde orienta que todo caso suspeito ou confirmado em gatos ou cães deve ser informado à vigilância local e investigado.
Atualmente, alguns estados fazem a notificação. De acordo com Flávio Telles, é o caso de Amazonas, Bahia, Goiás, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e São Paulo.
Minas registrou 524 casos em 2022 e 517 neste ano, conforme dados da Folha de São Paulo; Paraíba, 237 ocorrências em 2022 e 431 em 2023 (uma morte em cada ano); no Rio foram 1.517 casos em 2022 (uma morte) e 760 em 2023.
Micose
A esporotricose é uma micose causada pelo fungo da espécie Sporothrix schenckii, que habita a natureza e está presente no solo, palha, vegetais, espinhos, madeira. A doença, até o final da década de 1990, era comum em jardineiros, agricultores ou pessoas que tivessem contato com plantas e solo em ambientes naturais onde o fungo pudesse estar presente em materiais orgânicos.
Transmissão
Ocorre pelo contato do fungo com a pele ou mucosa por meio de trauma decorrente de acidentes com espinhos, palha ou lascas de madeira; contato com vegetais em decomposição; arranhadura ou mordedura de animais doentes, sendo mais comum o gato. Só se contrai a doença pelo contato com meios ou animais contaminados, não havendo transmissão de pessoa para pessoa.
Sintomas
Os sintomas variam de acordo com a forma com que a doença se manifesta, ou seja, se ela é cutânea (afeta a pele) ou extracutânea (afeta órgãos internos) e aparecem após a contaminação da pele pelo fungo provocando o desenvolvimento de uma lesão inicial, muito similar a uma picada de inseto.
Em caso de acometimento de órgãos internos, por exemplo, quando o fungo afeta os pulmões, pode surgir tosse, falta de ar, dor ao respirar e febre, assemelhando-se aos sintomas da tuberculose. Também pode afetar os ossos e articulações, manifestando-se com inchaço e dor aos movimentos, bastante semelhante aos de uma artrite infecciosa. As formas clínicas da doença vão depender de fatores, como o estado imunológico do indivíduo e a profundidade da lesão.
O período de incubação varia de uma semana a um mês, podendo chegar a seis meses após a entrada do fungo no organismo.
Nos felinos, os sintomas mais comuns são feridas profundas na pele, geralmente com pus, que não cicatrizam e costumam evoluir rapidamente e espirros frequentes.
Tratamento
A doença não é considerada grave e tem cura, tanto em humanos quanto nos animais acometidos. Após avaliação clínica, orientação e acompanhamento médico, o tratamento deve ser iniciado rapidamente e sua duração pode variar de três a seis meses ou mesmo um ano, até a cura completa, não podendo ser abandonado. Os medicamentos utilizados para tratar a esporotricose humana são disponibilizados gratuitamente por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde.
Participe do canal da Itatiaia no Whatsapp e receba as principais notícias do dia direto no seu celular. Clique aqui e se inscreva.
Leia Mais
Colunistas
Mais lidas do dia
Av. Barão Homem de Melo, 2222 - Estoril Belo Horizonte, MG
T.(31)21053588
Todos os direitos reservados © 2022 itatiaia.