Longevidade e trabalho: como o mercado emprega os brasileiros acima de 50 anos?
Com maior expectativa de vida e inversão da pirâmide etária, há desafios e potenciais para os próximos anos
Um brasileiro que nascer hoje vai viver quantos anos? O IBGE divulgou nesta quarta (29), os dados mais atualizados da expectativa de vida ao nascer. No Brasil, um bebê nascido em 2022 viverá, possivelmente, até os 75,5 anos. Ou seja, se ele acompanhar a média da população brasileira, vai chegar a essa idade.
O mesmo estudo do IBGE traz outro dado interessante - o da esperança de vida. Nele, o instituto traça o tempo médio que os brasileiros de uma idade determinada ainda vão viver. Em 2022, quem tinha 65 anos de vida ainda tinha expectativa de viver outros 18,1 anos chegando aos 83,1 anos de vida.

A idade de 65 anos não foi escolhida por acaso. Ela é, em 2023, a idade mínima para a aposentadoria por idade dos homens, no país. A previdência é apenas um dos desafios que acompanha a boa notícia de termos uma população mais longeva, principalmente com a pequena participação das aposentadorias complementares.
Em 2022, o Brasil tinha mais de 22 milhões de pessoas com 65 anos ou mais, o que equivale a 10,9% da população. Michelle Queiroz, professora associada da Fundação Dom Cabral, especialista em Longevidade e fundadora da ‘Rede Longevidade’, afirma que “estamos vivendo uma revolução da longevidade”, causada pelo aumento da expectativa de vida conjugada à menor quantidade de filhos por família e à velocidade com que o percentual da população idosa cresce no Brasil.
“Esse caldeirão de fatos causa um ambiente revolucionário que nunca vivemos antes na história”, diz a especialista. E conclui: “isso afeta todos nós. Se a gente não envelhecer, é por que a gente morreu”, diz Michelle.
A aversão ao envelhecimento é um retrato da cultura da juventude muito presente no Brasil, com reflexos em todas as áreas, inclusive no mercado de trabalho. “As pessoas falam ‘não quero ficar velha’, ‘não quero envelhecer’, mas isso é uma ilusão. Envelhecer é um privilégio. Envelhecer bem, então, é outro ainda maior”, completa a especialista.
Trabalho
Um dos reflexos dessa cultura da juventude está no mercado de trabalho - há poucas oportunidades formais para quem tem entre 50 e 64 anos e, a partir dos 65, o desafio é se manter com a aposentadoria do INSS.
Para a geração que tem, hoje, acima de 50 anos, conseguir um emprego formal é um desafio. Neste ano de 2023 o Brasil criou 1,8 milhão de empregos formais de janeiro a outubro. Os dados são do Caged, Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, divulgado mensalmente pelo Ministério do Trabalho.
Ele leva em conta todos os empregos com carteira assinada criados no país. Até agora, os dados são positivos para a maior parte dos grupos - menos para quem tem acima de 50 anos.
No mês de outubro, houve fechamento de 8,2 mil vagas para a população acima de 50 anos. No ano de 2023, são 76,8 mil vagas a menos. Em todas as outras faixas etárias, houve mais vagas criadas do que fechadas, o que permitiu o saldo positivo. A título de comparação, para quem tem entre 18 e 24 anos foram criados mais de 1 milhão de postos de trabalho.
“O déficit de contratação é absurdo”, comenta Michelle. “Muitos processos seletivos sequer contemplam a possibilidade de pessoas acima de 50 anos participarem. E se o governo muda a idade mínima para se aposentar, passando de 60 para 62, 65 anos, as pessoas se aposentam cada vez mais tarde. Como vão viver se não podem trabalhar?”, questiona a especialista.
Sem patrão
Para muitos, a alternativa é o negócio próprio. Laurana Viana, analista do Sebrae Minas, explica que “quando falamos de empreendedores entre 50 e 65 anos, muitas vezes são pessoas que foram demitidas de uma empresa e não conseguem se recolocar no mercado formal de trabalho”. Com isso, ao se ver em um momento da vida em que precisam trabalhar mais 10 ou 15 anos até se aposentarem e não conseguem recolocação com carteira assinada, vêem uma alternativa no empreendedorismo. A oportunidade de negócio será a renda principal.

Após a aposentadoria, há dois perfis principais de empreendedor. Um deles é o que precisa de uma renda complementar para se manter. É o caso de Raimundo, que é aposentado e vende roupas em uma feira para complementar a renda.
Outra possibilidade é quem vê o empreendedorismo como complemento de renda e oportunidade para se manter ativo. “No Brasil, muitas vezes a pessoa só é vista como ativa se ‘trabalha fora’. Tem muita gente que se incomoda com isso, é parte da personalidade ou da identidade”, explica. Nesses casos é comum ver empreendedores sociais ou pessoas que “desengavetam” um sonho, como abrir um comércio. É o caso da Vovó Loca, que hoje tem 94 anos e se reinventou durante a pandemia da Covid, junto com as netas, com um negócio de venda de coxinhas.

Experiência
No negócio próprio ou em uma vaga no mercado formal, as especialistas concordam que profissionais acima de 50 anos têm diversos pontos fortes.
“Toda a sociedade se beneficia de pessoas com 50+ se mantendo ativas e realizando sonhos, seja nas empresas ou empreendendo”, diz Laurana. “São pessoas de mais maturidade - principalmente ao lidar com outras pessoas - por terem passado por vários tipos de situações ao longo da carreira. Em empresas, contratar pessoas acima de 50 anos para conduzir uma equipe pode ser uma grande sacada. No empreendedorismo, sabem lidar com clientes e funcionários de forma mais amadurecida”, complementa a analista do Sebrae Minas.
Um pouco desses benefícios são sentidos no banco Mercantil. A empresa tem políticas para estimular a contratação de pessoas com 50 anos ou mais - faixa que também é público do banco. Entre as vantagens, a empresa vê que a experiência e a maturidade trazem tranquilidade e efetividade na resolução de problemas e situações do dia-a-dia.
Michelle Queiroz, da Rede Longevidade, conclui: “se tivermos a chance, a sorte de envelhecer, estamos construindo, hoje, a sociedade do futuro. É preciso que a gente arregace as mangas hoje, para que as empresas contratem mais pessoas dessa faixa etária hoje, para garantirmos as mudanças necessárias para o futuro”, conclui.
(Com colaboração de Enzo Menezes, Clarissa Guimarães, Ana Luisa Sales, Vinícius Brito, Naice Dias e Filipe Felício)
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