O mau uso da liberdade de expressão 

O primeiro passo para se perder determinado direito é o seu mau uso. De origem na Grécia Antiga, o direito de qualquer um manifestar livremente seus pensamentos, opiniões ou ideias se consolida ao fazer parte da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948. Nela, está escrito no artigo XIX: "Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras".

O problema é que, em nome dessa tal liberdade, no Brasil, grupos se organizam para defender ideais xenófobos, atacando minorias. Não bastam mais do que alguns minutos de consulta em mecanismos de buscas para se encontrar defesa de superioridade de raça, gênero ou social de um grupo sobre outro. São pessoas que procuram, entre seus pares, defender privilégios historicamente conquistados sobre o sofrimento e exploração dos semelhantes.

Em busca dessa tal liberdade, também políticos desfilam preconceitos contra pessoas e atacam instituições. Aqueles que deveriam zelar pelo bom funcionamento das instituições e pela promoção de políticas que possam diminuir a desigualdade agem, sob a sombra e proteção da tal liberdade de expressão e, neste caso, ainda a aliam imunidade parlamentar entre os argumentos para cometer crimes de ódio, preconceito e discriminação já tipificados no código penal.

Em busca dessa tal liberdade, pichadores depredam o patrimônio público e privado de nossas cidades e universidades. Seja para deixar uma marca, um protesto, um recado alguns transformam o espaço público e bens públicos e privados em vitrines de suas causas particulares e chamam isso de liberdade de expressão.

O direito de um cessa quando ameaça o direito de outro. Sempre foi assim e por que seria diferente quando falamos na liberdade de expressão? O direito à livre manifestação é pleno, desde que não afete outros direitos de outras pessoas. Parece simples, mas grupos de direita bem mais do que grupos de esquerda, políticos e cidadãos comuns se recusam a perceber e a admitir.

Por aversão ao diferente, por medo de perder privilégios, usam mal essa tal liberdade e podem, com isso, levar à imposição de limites a todos.