O que aprendemos ao visitar a casa dos outros?
Pensar a Educação é algo que se faz melhor ao vivermos diferentes realidades; conhecer escolas e universidades de outros países é uma oportunidade de aprendizagem significativa que quero compartilhar; é quase um espiar o que há de bom na cozinha do vizinho
Há pouco mais de um mês, tive a oportunidade de participar de uma imersão pedagógica em Santiago, capital do Chile. Este é um tipo de viagem em que além de conhecer um outro país, uma outra cultura, como fazemos em uma experiência turística, temos também a oportunidade de visitar e vivenciar experiências de aprendizagem.
Quando viajo, tenho a sensação de quem espia a cozinha do vizinho levado pelo cheiro de uma comida gostosa, diferente da sua. Assim como acontece quando fazemos isso, podemos adorar tudo ou parte, mas é bom demais experimentar e conhecer novos sabores, não?!
Confesso que essa curiosidade aumentou após a conclusão do meu doutorado, como pesquisadora de inovações em educação, afinal é muito interessante descobrir o que há de novo em Educação em outros lugares, para seguir pensando de forma inovadora sobre as questões do nosso país. Além disso, no meu papel como gestora, vejo o quanto ter um repertório de conhecimento de diferentes realidades, amplia a visão de cada um desses espaços de forma a compreendê-los melhor, diferenciá-los e respeitá-los. Um exemplo disso aconteceu ao visitar a escola pública chilena Emilia Lascar. Bastante afastada da região central da capital, o colégio se diferencia pela participação da comunidade como produtora de conhecimento. Isso mesmo! Pais, filhos e educadores produzem conteúdo educativo para a própria escola, a partir de um projeto de TV comunitária. Para mim, foi inevitável lembrar de projetos semelhantes que conheci em escolas brasileiras, mas pude observar na conversa com a equipe da escola, ao assistir a um vídeo produzido por estudantes e ao visitar o estúdio de gravação, que o nível de envolvimento de todos na escolha da programação, no processo de gravação e no uso dos vídeos produzidos como conteúdos de aulas, era algo inédito e bastante inspirador.
Após dois meses de aulas remotas que fiz antes da viagem, passar uma semana alternando aulas na universidade e visitas técnicas às escolas, permitiu que eu construísse um entendimento profundo, assim como ensinamentos que podem ser aplicados em projetos vivenciados aqui. Afinal, Brasil e Chile são países em desenvolvimento da América Latina que viveram períodos de crises e reconstruções semelhantes.
Outro ponto que me surpreendeu positivamente foi descobrir que no país, apenas dois cursos são examinados pelo Ministério da Educação com rigor: Pedagogia e Medicina. Refleti sobre o entendimento chileno de que educação é tão importante quanto a própria vida humana, aliás, entendo que educar e educar-se é o próprio viver.
Voltei trazendo na minha bagagem, memórias de paisagens, sabores e confirmações de alguns caminhos em Educação que temos adotado por aqui: o protagonismo do estudante, novas estratégias para a formação de professores e o desafio da participação maior da comunidade escolar. Super valeu!
Alcielle é diretora de educação do Instituto iungo, organização sem fins lucrativos que tem o propósito de transformar, com os professores, a educação no Brasil. É doutora em Psicologia da Educação e mestre em Educação: Formação de Formadores.
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